ADECO promove o uso do biogás: um exemplo para a gestão de resíduos orgânicos e sustentabilidade energética

Em Cabo Verde a gestão dos resíduos produzidos nas áreas rurais e semiurbanas ainda é muito deficiente e não existe um programa e orientações claras de como fazê-lo de forma correta.  O facto é que, salvo algumas excepções, a forma como é deposto este resíduo no meio ambiente propicia a contaminação do solo, água e plantas com bactérias e outros agentes patogénicos. Isto representa uma deterioração do saneamento das comunidades com sujidades e maus cheiros, o que pode provocar doenças e infeções às pessoas, traduzindo-se num problema ambiental e de saúde pública. Para além disso, estes resíduos acabam por emitir gases de efeito estufa que impactam nas alterações climáticas.

É preciso ter uma abordagem para o problema da deficitária gestão dos resíduos biológicos nas áreas rurais. O biodigestor é um sistema que representa uma boa solução para os problemas enumerados, pois permite dar uma resposta a vários problemas de uma vez só. O seu uso no meio rural representa um ganho no tratamento eficaz dos resíduos biológicos, proporcionando um ambiente mais saudável, mais limpo e mais sustentável.  Esta solução permite transformar e valorizar os residuos biológicos em fertilizante natural, mais saudável para plantas e produção de biogás, que pode ser usado no fogão das nossas cozinhas como energia sem custo adicional, o que representa uma poupança nos gastos com o gás butano. 

A ADECO, consciente dos benefícios ambientais e económicos do biogás, construiu um biodigestor na Ribeira de Calhau, pois para além de defender e proteger os direitos e legítimos interesses dos consumidores, a associação também tem como objetivo a proteção do ambiente. O biodigestor, que é gerido por um grupo de mulheres da Unidade de Transformação Agroalimentar de Ribeira de Calhau (UTAGA), foi construído no âmbito do projeto “Biogás Contribui para Comunidades Sustentáveis”, executado entre setembro a outubro de 2023, com o financiamento da Green Action Fund, através da Consumers International. O projeto tem como objetivo produzir biogás na comunidade de Ribeira de Calhau, informar e sensibilizar os consumidores e a sociedade cabo-verdiana sobre os benefícios da utilização de biodigestores a nível ambiental e económico.

O biodigestor é um sistema simples que tem como princípio promover a degradação ou decomposição da matéria orgánica ou biológica numa massa fermentada (adubo natural ou biofertilizante). É importante que esta decomposição ocorra num recipiente fechado e sem oxigénio. Nessas condições, certas bactérias vão se desenvolver e vão trabalhar para transformar esta matéria orgância em biofertilizante (ou estrume da mais alta qualidade) e também produzir biogás, que é uma mistura de gases, em que os principais são: o metano, o dióxido de carbono, o sulfeto de hidrogénio e o vapor de água. O metano é o responsável pela energia do biogás.

Para construir um biodigestor é preciso primeiro desenhar bem as dimensões e a instalação dos reservatórios ou tanques. Depois é preciso construir ou adquirir os reservatórios e tubagens e instalá-los corretamente. Finalmente deve-se instalar a tubulação para canalização do biogás para o ponto de uso. Deve-se ressaltar que  há sistemas de biodigestor mais simples e outros mais complexos. Os custos dependem das condições e necessidades do interessado, pois podemos falar de um biodigestor de 2 toneladas, 10 toneladas ou ainda maior.

O biodigestor construído pela ADECO irá produzir diariamente até 1400 litros de biogás, o que equivale ao consumo mensal de 1.5 garrafa de gás butano de 12.5 kg. Também irá produzir diariamente até 3kg de biofertilizante rico em azoto, fósforo, potássio e material orgánico (húmus) o qual tem grande poder de recuperar solos cançados.

E ainda no âmbito do projeto a ADECO celebrou a Green Action Week (GAW), junto da comunidade de Ribeira de Calhau, no dia 07 de outubro. A GAW celebrada anualmente, em todo o mundo, nada mais é do que uma oportunidade para promover o consumo sustentável.

A ideia principal da GAW é que quando colaboramos e partilhamos bens e serviços a comunidade torna-se mais forte e comunidades fortes geram benefícios sociais para todos e todas e esses benefícios reduzem o nosso impacto negativo no planeta. O projeto atingiu o seu objetivo na medida que a comunidade irá zelar pelo bom uso do biodigestor, os criadores de animais continuarão a partilhar dejetos dos seus animais, e em troca a UTAGA partilhará o biofertilizante com os criadores de animais e agricultores locais, criando assim uma comunidade que partilha. E no final quem ganha é o planeta!

Assim com este pequeno projeto a ADECO demonstra que é possível, de uma forma simples, melhorar a gestão dos resíduos orgânicos, diminuir a dependência de combustíveis fósseis e diminuir os gases de efeito estufa. Vamos apostar nesta solução!