Os jovens são o alvo principal da Indústria do Tabaco.

 

A indústria do tabaco procura garantir que, todos os anos, cerca de oito milhões de jovens iniciem o uso do tabaco; número correspondente ao total de mortes anuais de seus consumidores – clientes. É assim que, iniciando novos jovens todos os anos, a indústria mantém o seu mercado e a rentabilidade do seu negócio. As pessoas iniciam o consumo do tabaco enquanto são adolescentes /jovens; muito raramente se observa pessoas começarem o uso após 25 anos de idade. Estes são os motivos pelos quais a indústria do tabaco foca suas estratégias no aliciamento ao uso no seio dos jovens.  Sendo a nicotina um produto altamente causador da dependência, então, após algumas experiências, os jovens podem passar a ser consumidores – clientes regulares para o resto de suas vidas. O negócio da indústria é vender nicotina, um produto que provoca dependência, doenças, incapacidades e mortes, além de arruinar a economia das pessoas e famílias.

É por isso que, este ano, o foco sugerido pela Organização Mundial da Saúde, para a celebração do Dia Mundial sem Tabaco está direcionado para os jovens. E o lema é “Proteger os jovens das manipulações da indústria e os prevenir contra o uso do tabaco e da nicotina”. Os motivos desta escolha, conforme a mensagem oficial, estão relacionados com a necessidade de “(…)  combater as táticas agressivas de comercialização levadas a cabo pela indústria do tabaco para atrair uma nova geração de consumidores”.

Segundo a OMS oito bilhões de dólares são gastos, todos os anos, pela indústria em campanhas de marketing para vender produtos prejudiciais para a saúde que matam metade dos seus consumidores.

Em Cabo Verde, o cenário não é diferente.  Segundo o Estudo de Caso de investimento no controlo do tabaco apresentado ao país em 2019 pela OMS, “em 2017 o tabagismo ceifou a vida a 104 cabo-verdianos e custou à economia nacional 1,62 bilhões de escudos (CVE), equivalente a 1,06% de PIB.

Os gastos com saúde relacionados ao tabagismo ascenderam a 122,4 milhões CVE. Portanto, a economia perdeu 1,5 bilhões CVE por causa do tabaco, em custos indiretos relacionados com a produtividade em razão de mortes prematuras, de perda de capacidade produtiva e do fumo no local de trabalho” (ECI – WHO FCTC, 2019). O relatório recomenda ações concretas que o Governo de Cabo Verde pode adotar, numa abordagem que envolva toda a administração pública, a fim de contra-atacar o consumo do tabaco e suas consequências negativas ao desenvolvimento do país. Através do Projeto FCTC 2030, tanto o Secretariado da CQCT quanto a OMS e o PNUD prontificam-se a apoiar a administração pública cabo-verdiana na redução do fardo social, económico e ambiental provocados pelo tabagismo que continua a afetar o país.

Apesar do Governo ter dado passos significativos no controlo do tabagismo, importantes medidas ainda estão a aguardar conclusão, como é o caso do “Regime geral de prevenção e controlo do tabagismo”, que aguarda discussão e aprovação pela Assembleia Nacional. Também está sobre a mesa a liberalização ou não do comércio do tabaco em Cabo Verde (expirou a 20 de maio o período de concessão à SCT do monopólio do comércio do tabaco em Cabo Verde). O que já é sabido é que a competitividade pode ser boa sobretudo para tornar os produtos e serviços mais baratos e acessíveis.

E, considerando que a indústria do tabaco não produz nem bem nem serviço, não se deve permitir que o ambiente legal torne esta droga ainda mais barata e acessível, em consideração aos impactos conhecidos do uso do tabaco sobre a saúde pública, sobre o meio ambiente e sobre a economia.

Na outra ponta, para além dos esforços na prevenção e na regulação, o programa de cessação já iniciado pelo Ministério da Saúde e da Segurança Social poderá contribuir para fechar o circuito de controlo do tabagismo em Cabo Verde, oferecendo aos que quiserem parar uma oportunidade para deixarem o uso do tabaco. Estudos apontam que mais 80 por cento dos fumadores desejam parar.

Se os esforços conjuntos permitirem ao país, nesta altura, afastar a afluência ao uso do Shisha pelos jovens; afastar os jovens dos cigarros eletrónico e do tabaco aquecido; se Cabo Verde conseguir impedir o acesso direto ao tabaco por menores, garantir que todos os ambientes fechados e semifechados sejam livres do fumo e quebrar a imagem da industria do tabaco como amiga da saúde, da educação e da juventude, o país conseguirá alcançar a meta 3.a dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, e contribuirá fortemente para a redução em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis.

A prevenção é essencial, mormente para um país de parcos recursos como Cabo Verde. A baixa prevalência do tabaco no país (cerca de 10%) pode acabar sendo um engodo se o país não se mantiver guarnecido. Muitos têm afirmado, para justificar a baixa prevalência ao uso do tabaco em Cabo Verde, que o mercado cabo-verdiano é pequeno; que não atrai muita competitividade das multinacionais. Esta premissa, no entanto, no contexto atual, resulta de uma análise parcial.

Pois, se se olhar para o contexto global atual, pode-se perceber que, por um lado, os países desenvolvidos estão a controlar cada vez mais a atividade industrial e o uso do tabaco em seus territórios, reduzindo assim o mercado e levando a que as indústrias percam clientes nesses países; por outro, pode-se enxergar a capilarização dos braços industriais sobretudo nas regiões e nos países com populações mais pobres. Procuram assim, recuperar o mercado que estão perdendo, atraindo os jovens, com novos produtos e com estratégias cada vez mais inovadoras. Neste contexto, prevenir os jovens e, denunciar as táticas industriais de sedução é proteger a nova geração e assegurar melhor saúde e bem-estar para todos.

Escrito por: José Teixeira – Consultor da OMS